Salvação conjunta

(Isto É Dinheiro)
Restoque e InBrands estão perto de fechar uma fusão que cria uma gigante da moda com 19 marcas e receita de R$ 2 bilhões. O objetivo é fortalecer as operações de ambas em meio à recessão econômica

1464983226602Em agosto de 2014, o mercado dava como certa a fusão entre os grupos de moda InBrands e Restoque, o que resultaria em um conglomerado de faturamento superior a R$ 2 bilhões. Em teoria, a união fazia todo o sentido. A Restoque, com grifes como Le Lis Blanc, Bo.Bô e Rosa Chá, é mais forte em vestuário feminino. Já a InBrands, dona das marcas Ellus, Richards e VR, tinha boa parte do seu faturamento vinculado a venda de roupas para homens. Na prática, no entanto, o namoro não deu em nada. Por divergências na troca de ações entre os controladores, a Restoque saiu em busca de outra empresa e uniu as operações com a camisaria Dudalina, na época controlada pela empresária Sônia Hess.

Agora, com o aprofundamento da crise econômica, as conversas voltaram. Na quinta-feira 2, os grupos divulgaram ao mercado o chamado “fato relevante”, oficializando que estão em conversas para sacramentar o negócio. A partir de agora, ambas farão um due dilligence, processo que avalia os riscos da transação, para entender melhor a situação financeira de cada empresa. Porém, além das sinergias aparentes, a intenção é fazer com que as varejistas se recuperem da crise que atinge o setor de vestuário brasileiro.

As empresas analisam se unir em meio à queda nas vendas, o fechamento de lojas e o encerramento de marcas. Enquanto isso, a dívida e o prejuízo crescem. “Elas têm potencial de ser a LVMH brasileira, mas terão que fazer uma gestão à altura para sair do momento turbulento”, diz um consultor que está a par das negociações, referindo-se ao conglomerado francês dono de grifes como Louis Vuitton, Dior, entre outras.
As duas companhias precisam reagir rápido. 

Nos primeiro três meses de 2016, a Restoque viu suas vendas reduzirem 16%, para R$ 248 milhões, e seu lucro cair de R$ 16 milhões para um prejuízo de R$ 24 milhões. O tombo da InBrands foi um pouco menor nas vendas, mas a rentabilidade seguiu em proporção similar. A receita líquida caiu 5,5%, para R$ 214 milhões, e seu lucro despencou de R$ 15,5 milhões para um prejuízo de R$ 29 milhões. “Uma eventual fusão pode trazer um ganho imediato, como renegociação com fornecedores e redução de custos”, afirma Douglas Carvalho, sócio da Target Advisor, consultoria especializada em varejo.

O grande problema que assusta analistas e consultores é o tamanho da dívida das companhias. “Eles faturarão alto, mas o endividamento segue a mesma tendência”, diz Carvalho. A relação dívida líquida e Ebitda (ganhos antes de juros, taxas, depreciação e amortização), que evidencia o nível de alavancagem, é superior ao recomendável por analistas: o da InBrands foi de 4,08 vezes, nos últimos doze meses, e o da Restoque, 3,09 vezes. “Apesar de estar mais endividada, a InBrands tem demonstrado força maior na busca por melhores resultados”, afirma Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail.

Desde o ano passado, a InBrands vem focando nas marcas mais rentáveis e diminuindo ou até fechando outras. É o caso da Mandi e da Alexandre Herchcovitch, que passaram a ter as suas operações encerradas aos poucos. Segundo consultores e analistas ouvidos por DINHEIRO, o que vai definir o sucesso ou fracasso do negócio será a governança da futura empresa. Até agora, não se sabe como será distribuído o controle e nem qual modelo de negócio será seguido.

No mercado, tanto Nelson Alvarenga quanto Márcio Camargo, presidentes do conselho e acionistas de InBrands e Restoque, respectivamente, são considerados centralizadores e não abrem mão de comandar. Para piorar, a Restoque tem vivido dias tensos com disputas entre seus controladores, os fundos Artesia, Advent e Warburg Pincus. “Se deixarem o ego de lado e pensarem em uma gestão independente dos problemas, essa fusão pode trazer bons resultados”, diz um consultor que não quis se identificar. A conferir.

Por: André Jankavski

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