Arezzo e Soma preparam nova onda de aquisições

(Valor Econômico)
Por Adriana Mattos

Companhias estão capitalizadas e em processo de ampliação de seus portfólios de marcas.

A compra da varejista de moda Reserva pela Arezzo&Co é apenas o início de um disputa entre a empresa da família Birman e o Grupo Soma (das marcas Animale e Farm), na qual as fusões e aquisições de marcas terão peso determinante.

Na sexta-feira, após uma negociação de quatro meses, a Arezzo anunciou a compra da Reserva numa operação de R$ 715 milhões – R$ 225 milhões em dinheiro, R$ 457 milhões em ações e R$ 33 milhões em dívidas. Os sócios da Reserva passam a ter 8,7% da Arezzo e !cam na gestão. Os Birman reduzirão sua fatia no grupo de 50,3% para 45,9%, e 45% das ações estarão em bolsa. Com a compra, a Arezzo amplia a sua atuação na área de moda.
Ambas capitalizadas, Arezzo (com Reserva) e Soma não são concorrentes tão diretas hoje – a primeira será mais forte em calçados e vestuário masculino e a segunda, em moda feminina. Mas o plano de expandir seus portfólios por meio de aquisições colocará as duas frente a frente em curto espaço de tempo. “Arezzo e Soma não devem sair tão machucadas desse processo de concentração porque ambas são saudáveis e rentáveis. Mas mesmo sendo fortes em setores diferentes, em certos momentos acabarão competindo pelas mesmas empresas, porque é pequena a lista dos melhores ativos de moda no país hoje”, disse Alberto Serrentino, sócio e fundador da consultoria Varese Retail.
Há sinais de que isso já começou a ocorrer. A Arezzo teve conversas iniciais para comprar a Amaro, varejista on-line de moda que faz parte da “lista de desejos” da Soma, conforme antecipou o Valor em agosto. As negociações não avançaram, disse na sexta-feira o CEO da Arezzo, Alexandre Birman. Ele contou que prepara uma aquisição para fortalecer seu braço digital, mas não se trata da Amaro. “O que estamos tratando é algo que, por coincidência, a Reserva também vinha vendo, então acabamos convergindo nisso”, disse.
Birman entende que há espaço para uma consolidação do setor. Perguntado sobre eventual concorrência por ativos com a Soma, não comentou. A Arezzo vem analisando a compra de duas a três marcas de vestuário, num processo iniciado antes da pandemia. Já a Soma tem uma lista de 33 redes que considera com potencial de crescimento, apurou o Valor. Desse total, cinco a seis marcas são vistas como mais interessantes, como a Osklen, da Alpargatas – grife que também é um dos “sonhos de consumo”, da Arezzo, diz uma fonte. A Soma abriu capital em julho e tem R$ 600 milhões para aquisições.
Os movimentos de consolidação no setor nem sempre garantiram bons resultados. Após uma série de aquisições anos atrás, o grupo Inbrands (dono de grifes como Ellus e Salinas) teve dificuldades de gestão, se alavancou e busca agora uma renegociação de suas dívidas. Outra companhia consolidadora, a Restoque, das marcas Le Lis Blanc e Dudalina, iniciou processo de recuperação extrajudicial em junho, em parte pelos efeitos da pandemia – este mês a Restoque conseguiu concluir a renegociação com credores e teve seu plano aprovado.

Fontes próximas aos grupos Arezzo e Soma dizem que, desta vez, a história será diferente, pois ambos partem para aquisições com boa situação de caixa e questões societárias mais definidas.
Apesar de concordarem com o potencial a ser gerado com a aquisição da Reserva, analistas do Credit Suisse chamaram a atenção, na sexta-feira, para o desafio que a Arezzo terá para administrar um negócio fora da área de calçados. Uma nova subsidiária, chamada AR&Co, será a plataforma de moda da Arezzo. Rony Meisler, presidente da Reserva, será o CEO desse negócio. “A questão da governança e da convivência serão chaves. Precisará existir maturidade na condução do projeto. Alexandre e Rony tem estilos diferentes, mas acho que Alexandre tem essa consciência”, afirmou Serrentino.
O foco da Ar&Co no curto prazo será a expansão por meio das vendas em lojas multimarcas, e num segundo momento, por meio de franquias das marcas da Reserva. O grupo ainda deve usar as marcas Shutz e Eva para aumentar a linha de moda feminina. E a Reserva Mini pode ter uma linha infantil feminina. “Temos 750 lojas como Arezzo e a Reserva tem 112, por aí você vê o potencial de aberturas da Reserva”, disse Birman. “Após 2007, em três anos ou quatro anos, triplicamos a Arezzo. Podemos fazer isso também com Reserva.”

 

Fonte Valor Econômico
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/10/26/arezzo-e-soma-preparam-nova-onda-de-aquisicoes.ghtml
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