Mercado ‘bom pra cachorro’: setor pet resiste à pandemia da Covid-19

(Stilo Editora)
Por Tiago Abech, da CNN

O Brasil é o terceiro maior mercado de pets de todo o mundo. E como os 54 milhões de cachorros e 24 milhões de gatos nas casas dos brasileiros continuam precisando se alimentar e viraram companhias importantes na quarentena, o mercado sentiu menos do que os outros a crise da pandemia do novo coronavírus.

 

Não por acaso, a expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) é de que o segmento se mantenha estável em 2020, oscilando pouco em relação ao faturamento do ano passado, que foi de R$ 36 bilhões. Diante de quedas generalizadas, é uma vitória.

Soma-se a isso que diversos locais, como São Paulo, classificaram os pet shops como serviços essenciais, permitindo que eles continuem abertos.

Na Petz, maior rede do Brasil com 107 lojas, as vendas dobraram na semana anterior à determinação do isolamento social. Depois, voltaram ao normal. Mas o valor médio da compra aumentou 30%, passando de R$ 110 para R$ 150.

“O cliente não deixa de ir à loja, mas, quando vai, aproveita para fazer uma compra grande e, assim, não precisar retornar com tanta frequência”, avalia o CEO da Petz, Sergio Zimerman. A empresa faturou R$ 986 milhões em 2019, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, taxas, depreciação e amortização) saltou 130% no mesmo período.

Não por acaso, a empresa é uma das que eram esperadas para uma abertura de capital na B3 ainda em 2020. Em fevereiro, a Petz, que é controlada pela holding Pet Center, pediu registro para IPO na bolsa brasileira. A intenção do movimento era levantar dinheiro para novas aberturas de lojas e uma atenção maior para a operação digital.

A pandemia mostra que as vendas online deverão ter grande importância na estratégia da companhia. Se a quarentena fez a ida ao ponto de venda diminuiu, o movimento no e-commerce mais que dobrou. O comércio online passou de uma participação 12% para 25% depois do início da pandemia.

“Percebemos que o cliente passou a alternar: faz uma compra na loja, outra pela internet. E acreditamos que, passada a pandemia, o percentual vai se manter em torno dos 20%, que é o que prevíamos para daqui cinco anos. Esse será o novo normal, antecipado pelo novo coronavírus”, analisa Zimerman.

Quem compra pela internet pode receber os produtos em casa ou retirar na loja com opção de “zero contato”. Para isso, as unidades contam agora com o serviço de drive-thru, em que um funcionário coloca as compras direto no porta-malas.

 

Faturamento recorde

O aumento de 10% no faturamento em março chegou a ser interpretado pela Petland como uma antecipação de compra por causa da quarentena. No entanto, abril chegou e, na primeira quinzena, as vendas já eram 6,5% maior que no mesmo período do ano passado.

“As pessoas não deixaram de comprar e passaram a adquirir mais produtos. Em vez de um pacote de ração, levam dois. Também pegam mais petisco, mais brinquedo. O cachorro está confinado, sem passear ou saindo menos e precisa gastar energia”, explica o CEO da Petland, Rodrigo Albuquerque.

Rodrigo Albuquerque Petland

Rodrigo Albuquerque, presidente da Petland: serviço de banho e tosa paralisado foi um baque no faturamento
Foto: Petland/Divulgação

A rede, que tem 100 lojas em 17 estados, comprou recentemente a plataforma de e-commerce Geração Pet, que já é usada por 40% das unidades. Mas mantém a atenção às lojas pequenas, localizadas em bairros mais afastados do centro, que conquistem e mantenham o cliente com atendimento diferenciado.

“Queremos que as pessoas confiem no nosso serviço e retornem toda semana. Ainda mais que as lojas ficam nos bairros, perto da casa do cliente, que é atendido sempre pelo mesmo funcionário, que conhece ele e o pet pelo nome. Então, existe um vínculo afetivo”, afirma Albuquerque.

O serviço de banho e tosa, que representa 23% do faturamento da companhia, está temporariamente suspenso. Apesar disso, uma única unidade da Petland vendeu, em apenas um dia, 350 pacotes para quando o serviço voltar a funcionar. As reservas compensarão parte da venda, mas não serão suficientes para recuperar os valores perdidos – afinal, o cachorro não precisará de mais banhos ou tosas quando o serviço retornar ao normal.

Rodrigo Albuquerque conta que resistia à ideia de oferecer o serviço de entrega, mas que, diante da necessidade, acabou implantando não só o delivery, mas também o drive-thru. “E vieram para ficar”, conclui.

 

Volume semanal acima do mensal

Aplicativo de entrega de produtos pet, a Zee.Now teve um aumento de 40% no número de pedidos em março na comparação com fevereiro, o que fez a receita subir 52%. Segundo a empresa, 65% das compras são de produtos considerados essenciais, como alimentos e remédios, e 35% não-essenciais, como brinquedos e guias para passeio.

Criado em 2019, o app registrou mais de 200 mil downloads em menos de um ano e conquistou, em duas semanas, um número de downloads esperado para 4 ou 5 meses.

Zee Now

Entrega de produtos da Zee.Now: aplicativo viu aumento de 40% em volume de pedidos no mês de março
Foto: Zee.Now/Divulgação

“O mais importante é que 78% das pessoas que baixam o aplicativo fazem compras a cada 45 dias ou menos. Isso mostra que se o serviço já era importante antes da pandemia e que está sendo ainda mais durante”, avalia Felipe Diz, CEO e cofundador da Zee.Now.

Hoje, o aplicativo atende a 90 bairros em São Paulo e no Rio de Janeiro. Para isso, conta com 5 centros de distribuição. A empresa trabalha com frota própria e, recentemente, fechou parceria com o iFood, o que permite entrega rápida durante 24 horas de qualquer produto pet.

“Com a pandemia, notamos uma mudança nos horários dos pedidos. Agora, eles estão diluídos ao longo do dia. Antes, eram feitos de manhã cedo, antes do tutor sair para trabalhar, ou no início da noite, quando voltava para casa”, analisa Diz. Outro ponto que conquista o consumidor: a Zee.Now decidiu não cobrar taxas de entrega.

 

Fábricas em pleno funcionamento

Nenhuma das empresas ouvidas pela CNN Brasil relatou desabastecimento. O motivo é que a maior parte dos produtos pet que abastecem as prateleiras das lojas é feita aqui no Brasil. O país tem 177 indústrias, todas em funcionamento, e 90% da produção vai para o mercado interno.

De acordo com o presidente da Abinpet, José Edson Galvão de França, não há indicativos de fechamentos de fábricas, reduções de jornadas de trabalho ou demissões. E a previsão é de que o faturamento, neste ano, seja parecido com o do ano passado.

“Verificamos que devemos ficar estáveis, com leve crescimento ou leve queda. Isso mostra a resiliência do mercado pet, tendo em vista as previsões de recessão da economia brasileira”, avalia.

Empatado com a Inglaterra, o Brasil é o terceiro maior mercado pet do mundo. Está atrás apenas dos Estados Unidos e China, que passou o Brasil neste ano.

 

Pequenos sofrem

O consultor Alberto Serrentino, especializado em varejo e consumo, avalia que o mercado pet cresce sistematicamente acima do PIB porque cada vez mais lares têm animais de estimação e porque eles passaram a ser tratados como membros da família. Mas que, enquanto as grandes redes e as marcas mais consolidadas passam pela crise, as pequenas, que são a maioria, já sofrem algum tipo de prejuízo.

“O mercado pet é muito fragmentado. A maior parte é de pequenas empresas, que não têm a mesma capacidade das grandes de se manter. Então, considerando o todo, o resultado pode ser negativo”, diz Serrentino, que é o fundador da consultoria Varese Retail.

Na opinião dele, que é especialista em varejo e consumo, o padrão deve mudar em função da pandemia do novo coronavírus.

“Os setores vão retomar as atividades gradualmente, alguns vão demorar muito, e isso vai gerar queda de emprego e de renda. As pessoas vão passar a comprar menos. O segmento pet vai ser impactado, sem dúvida, mas certamente menos que outros setores”.

 

Fonte: CNN Brasil
https://www.editorastilo.com.br/mercado-bom-pra-cachorro-setor-pet-resiste-a-pandemia-da-covid-19/

 

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