Magazine Luiza pode levantar R$ 4,5 bi para acelerar negócio

(Valor Econômico)

Por Maria Luíza Filgueiras

Varejista aproveita euforia de resultado recorde para lançar sua maior oferta de ações

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A varejista Magazine Luiza anunciou uma nova oferta de ações, para acelerar a transformação de seu modelo de negócio. A companhia aproveitou a euforia dos investidores com mais um resultado trimestral recorde para colocar na rua sua maior captação de recursos até hoje. Pode levantar R$ 4,5 bilhões para seu caixa, em uma oferta total de R$ 5,4 bilhões, para o crescimento de seu “marketplace” (shopping virtual), aumento da rede de distribuição, investimento em tecnologia e em aquisições – o combo que tem feito os analistas manterem suas recomendações de compra das ações, mesmo após expressiva valorização.
A oferta base é de R$ 4,02 bilhões, considerando o preço de fechamento de ontem – recursos que vão integralmente para a companhia. Se houver demanda para lote adicional, o montante que vai para o caixa pode ser acrescido de R$ 446,4 milhões e os acionistas podem vender R$ 892,8 milhões em uma tranche secundária.
Na véspera do comunicado da nova oferta, a varejista divulgou o balanço do terceiro trimestre, com alta de 32,5% na receita e um lucro operacional recorde. Mas o que fez as ações dispararem 7% anteontem foram os números que indicam que a transformação do modelo de negócio, de que tanto fala nos últimos anos o presidente da companhia, Frederico Trajano, está ficando cada vez mais evidente. No trimestre, o marketplace cresceu 300%, já representando 26% do comércio eletrônico do Magazine. As vendas na internet representam praticamente a metade do negócio da companhia – com crescimento de 96% no trimestre, a representatividade nas vendas totais chegou a 48%. Por isso, o banco Credit Suisse já projeta que o quarto trimestre será o primeiro em que as vendas na internet ultrapassarão as vendas físicas da empresa.
ecossistema de comércio e serviços, e não uma vendedora de eletrodomésticos eletrônicos. É o modelo das grandes empresas americanas e chinesas, como Amazon, Alibaba e Tecent ”, diz Alberto Serrentino, diretor da consultoria especializada Varese Retail.
Ele destaca que, nos Estados Unidos, metade de tudo o que é comprado na internet passa pela Amazon (em sua venda direta ou de terceiros em seu marketplace). Assim como no modelo americano, o Magazine tem desenvolvido ferramentas para ajudar os lojistas parceiros a vender – já que não adianta estarem conectados à plataforma se não houver volume de negócios. Isso é feito com tecnologia, dados, marketing e logística. Em teleconferência com analistas, Trajano ressaltou que a companhia vai aumentar também a oferta de serviços financeiros para os vendedores de seu marketplace.
“Cerca de 55% do que a Amazon transaciona é venda de outros e 45% é venda dela. O Magazine Luiza está indo nesse caminho e ganhando tração”, diz Serrentino. Conforme o especialista, a companhia dona do marketplace se apropria de um percentual entre 8% a 20% da venda feita pelos demais comerciantes em sua plataforma.
A concorrente B2W tem força no modelo de negócio de marketplace, mas queimando caixa. No Magazine, o retorno anualizado sobre patrimônio (ROE) é de 29%, ante média de 3% do setor de varejo em bolsa. “A empresa tem ROE de banco”, diz um grande gestor de ações.
Enquanto isso, B2W e Via Varejo acumulam prejuízo no ano. Há crescimento de outros concorrentes, com a chegada da Amazon ao Brasil, e a expansão do Mercado Livre, forte em logística e meios de pagamento. A aposta dos gestores que continuam investindo no Magazine é que, quando as rivais acelerarem, a empresa estará em uma posição competitiva mais vantajosa. A Amazon, por exemplo, tem apenas um centro de distribuição no Brasil – a varejista controlada pela família Trajano tem vários e ainda transformou suas lojas em “minihubs” de distribuição.
Outro gestor cita a tacada recente de comprar a combalida Netshoes, varejista on-line de vestuário e artigos esportivos. Além de transformar o Magazine na empresa com maior faturamento em e-commerce no Brasil, o negócio agregou estrutura de marketplace ao negócio, e aumentou a recorrência do cliente na venda própria – já que a frequência de compra de roupa e artigos esportivos é maior que a de TV e geladeira.
O Magazine fez sua estreia em bolsa em 2011. Conforme o Valor Data, o retorno acumulado de quem entrou na listagem é de 2.306%. Ali, a oferta movimentou R$ 886 milhões. Para quem entrou na oferta subsequente em 2017, cujo volume foi de R$ 1,56 bilhão, o retorno é de 466%.
Só este ano, a ação da varejista subiu 92%, ante 18% do Ibovespa. Sua valorização levanta questionamentos frequentes sobre sua capacidade de ainda crescer e fazer a ação subir mais – no entanto, ainda que considerem o preço justo por ação próximo à cotação atual, analistas de bancos como Bradesco BBI, BTG Pactual e Itaú BBA mantêm as recomendações de compra.

 

 

Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2019/11/06/varejistas-e-fabricantes-de-bens-de-consumo-crescem.ghtml
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