Pão digital

(IstoÉ Dinheiro)
O executivo Peter Estermann assume a presidência do Grupo Pão de Açúcar com a missão de aumentar as vendas pela internet, algo que pode ser benéfico para atrair interessados em comprar a Via Varejo

Carlos Eduardo Valim

din1058-pao_digital1Na noite da segunda-feira 19, após o anúncio dos resultados do Grupo Pão de Açúcar (GPA) e o fechamento da bolsa de valores, Ronaldo Iabrudi, CEO da empresa, ligou para mais de dez analistas de bancos que acompanham as ações da companhia. Ele informava que o processo de transição, que vinha sendo desenhado há um ano, estava sendo colocado em prática. A partir de 27 de abril, Peter Paul Estermann, um executivo de 60 anos que foi subordinado a Iabrudi no início dos anos 2000 na Telemar (atual Oi), assumirá como presidente do GPA. Iabrudi, que ficou quatro anos e um mês e se tornou o mais longevo comandante desde a saída do empresário Abilio Diniz da sociedade na empresa, será covice-presidente do Conselho de Administração.

Essa passagem não é uma simples troca de cadeiras. Ela reforça a mensagem de que a varejista pretende ficar mais forte e presente no mercado digital e enfrentar concorrentes como Magazine Luiza e Amazon. “Há três pontos principais para a minha missão no varejo alimentar do GPA. Vamos ter de continuar investindo nos formatos de loja que trazem mais rentabilidade. Devemos crescer através da transformação digital, que é um movimento sem volta e que precisamos acelerar o máximo possível. E vamos adequar a estrutura de custos ao tamanho de cada negócio”, afirmou Estermann, em conferência com analistas, na terça-feira 20. “Além disso, na Via Varejo, daremos suporte total à estratégia de digitalização dos negócios, que já havíamos começado.”

Compra virtual: os novos executivos do GPA vão se concentrar em expandir os negócios online da rede varejista (Crédito:Divulgação)

Compra virtual: os novos executivos do GPA vão se concentrar em expandir os negócios online da rede varejista (Crédito:Divulgação)

Estermann é descrito por pessoas próximas como um profissional sério, discreto e com perfil de liderança “mão na massa”, que gosta de ficar muito próximo de sua equipe. Ele chega ao topo do GPA depois de um ano e meio como CEO da Via Varejo, a empresa que administra os negócios de eletroeletrônicos do grupo, como Ponto Frio e Casas Bahia, e a divisão de comércio eletrônico Cnova. O executivo desembarcou no grupo em 2014, como vice-presidente de infraestrutura e desenvolvimento estratégico. Nesse período, tinha como uma de suas funções a busca de sinergias entre os diferentes negócios.

Isso deu a ele uma visão geral da empresa, o que deverá ser valioso para a nova função. Mas Estermann acabou despontando como o principal nome para a sucessão de Iabrudi após completar uma rápida integração da Cnova com a Via Varejo, iniciada em setembro de 2016. Quando começou o trabalho, a Cnova perdia R$ 1 bilhão por ano. Em apenas um trimestre, o negócio voltou ser lucrativo. Em 18 meses, ele já havia completado a missão de integrar os estoques e centros de distribuição, além de reorganizar as lojas físicas e a política de preços. Sob o seu comando, as vendas subiram de R$ 19 bilhões para R$ 26 bilhões, e as ações valorizaram mais de 500%, em apenas dois anos. “Ele fez um trabalho muito complexo e difícil, em um curto espaço de tempo”, diz Alberto Serrentino, sócio-fundador da consultoria Varese Retail. “Conseguiu integrar operações grandes e o grupo já está colhendo os frutos disso.”

Especialista em mercado digital, o executivo Flávio Dias comandará a Via Varejo para reforçar a plataforma de e-commerce (Crédito:Divulgação)

Especialista em mercado digital, o executivo Flávio Dias comandará a Via Varejo para reforçar a plataforma de e-commerce (Crédito:Divulgação)

Se a ascensão de Estermann era dada como certa internamente, a de Flávio Dias para presidência da Via Varejo é considerada uma surpresa. Ele desbancou candidatos mais cotados, como Vítor Fagá, diretor de relação com os investidores do GPA, que já assumiu interinamente o cargo de CEO da Via Varejo. Aos 41 anos, Dias terá em mãos 1,1 mil lojas sem nunca ter tido qualquer experiência com negócios físicos. Porém, ele é um dos mais respeitados nomes do e-commerce no Brasil. Egresso do Magazine Luiza, foi um dos responsáveis pela criação do comércio eletrônico do Walmart no País. Na Via Varejo, ele era diretor da unidade de negócios online e ajudou a reformular a atuação da companhia, que tinha uma cultura muito analógica, herdada da Casas Bahia. A favor dele contou, também, a abertura de uma loja-conceito, na Vila Olímpia, em São Paulo, com prateleiras interativas e realidade virtual. Procurado, o Pão de Açúcar não concedeu entrevista.

A escolha por Estermann e Dias indica o caminho a ser tomado pelo GPA. “As mudanças são positivas para a Via Varejo, tendo em vista especialmente o atual momento da companhia, com forte foco em alavancar sua estratégia de múltiplos canais”, avaliou o banco JP Morgan, em nota. Isso também reforça a estratégia do francês Casino, controlador do GPA, encontrar um comprador de sua fatia de 43,3% na Via Varejo – a família Klein, fundadora da Casas Bahia detém 26,1%. Os franceses já indicaram que vão se concentrar apenas no varejo alimentar. “Ao modernizar as operações, o GPA amplia a lista de interessados no ativo”, diz uma fonte, que preferiu não se identificar. “Além de fundos de investimento, a Via Varejo pode se tornar atrativa para grandes empresas internacionais, como Amazon ou Alibaba.” A mensagem do Pão digital está bastante clara.

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Fonte: IstoÉ Dinheiro | 28 de Fevereiro de 2018
https://www.istoedinheiro.com.br/pao-digital/
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