Varejistas aumentam receita e lucro

(Valor Econômico)
Grandes grupos do varejo mostram melhora nos resultados no segundo trimestre, com expansão em vendas, lucro líquido e com ganhos de margem, num ritmo acima do verificado desde 2014

Por Adriana Mattos e Cibelle Bouças | De São Paulo

Grandes grupos do varejo mostram melhora nos resultados no segundo trimestre, com expansão em vendas, lucro líquido e com ganhos de margem, num ritmo acima do verificado desde 2014 (ver tabela abaixo). O desempenho é reflexo de ajustes feitos pelas empresas, desde o ano passado. E, em menor escala, de um aumento de demanda em certos setores, como o de móveis e eletroeletrônicos.

Esse cenário deve permanecer no segundo semestre, segundo analistas. A base fraca de comparação também explica resultados mais robustos, considerando que a recessão fez despencar os níveis de consumo no país. O ano de 2016 foi o pior da história do varejo desde 2001, segundo o IBGE.

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“Se pudéssemos fazer um cálculo, diria que dois terços dos aumentos nos ganhos deste ano vieram de ajustes promovidos pelas empresas, com revisões em custos, renegociações de contratos, busca por dívidas mais baratas. Um terço veio de alguma recuperação de demanda, que expandiu vendas”, disse Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail.

A liberação do saldo das contas inativas do FGTS “ajudou bastante o varejo, principalmente eletrônicos e móveis, incluindo nesse grupo Magazine, Via Varejo e os hipermercados”, disse o analista Guilherme Assis, do banco Brasil Plural.

Há consenso, entre executivos e analistas, de que a concorrência está menos acirrada, como resultado de um ambiente macroeconômico menos instável.

“O ambiente de promoções muito agressivas, que se viu principalmente no primeiro trimestre, normalizou. Hoje estamos operando em condições quase que normais”, disse José Galló, presidente da Renner, ao comentar o balanço do segundo trimestre na semana passada.

Há promoções menos agressivas, o que ajudou a rentabilidade, observou Assis, do Brasil Plural.

Gestores de redes como Magazine Luiza e Hering também comentaram esse aspecto. “Desde o quarto trimestre de 2016 não se vê uma normalização de margem bruta. Agora vemos”, disse ontem o diretor financeiro da Hering, Frederico Oldani.

Há espaço, segundo as varejistas, para continuar melhorando na segunda metade do ano. “Estamos vindo de dois anos de recessão, com muita demanda represada. Quando há algum sinal de liquidez no mercado, como foi o saldo das contas do FGTS, você vê reação. Eu não sei dizer como ficará agora sem o FGTS. Mas vejo que, com a queda nos juros e o câmbio estável, o mercado deve ter um segundo semestre melhor. E nem sempre foi assim”, disse, nesta semana, o presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano.

Magazine Luiza e Via Varejo já notaram uma melhora da demanda por móveis e aparelhos de TV, por exemplo.

Levantamento do Valor Data mostra aumento do lucro de sete grandes varejistas no segundo trimestre em ritmo bem superior à expansão da receita líquida. Isso, em parte, é reflexo de um aumento discreto nas despesas operacionais e uma retração nas despesas financeiras – algo que ocorre pela primeira vez desde 2012, pelo menos. Foram colhidos dados do Grupo Pão de Açúcar. Via Varejo, Magazine Luiza, Raia Drogasil, Lojas Renner, Hering e Arezzo.

Houve expansão no lucro líquido desse grupo, de 880%, atingindo R$ 651 milhões – é a primeira vez desde 2014 que as companhias têm alta no lucro de abril a junho. As vendas líquidas subiram 18,7%, para R$ 25,2 bilhões. As despesas operacionais, com alta de 11,5%, cresceram menos que a receita.

Com vendas melhores e despesas subindo mais devagar, outro indicador reagiu, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação, na sigla em inglês), com expansão de quase 35%. Com indicadores operacionais em melhor patamar e despesas financeiras menores, a linha do lucro avançou.

Esse cenário anima investidores, especialmente após a baixa dos papéis do setor no ano passado. O índice das empresas de consumo da bolsa (indústrias, varejistas e construtoras) subiu 14,7% neste ano até ontem, acima do Ibovespa, que registrou valorização de 11%.

Medidas adotadas pelas varejistas de moda são exemplo claro de como mudanças na operação deram resultado segundo trimestre. Renner, Hering e Arezzo informaram que a melhora no desempenho do segundo trimestre deve-se, principalmente, a ajustes feitos em coleções (mix de produtos) e estoques.

O presidente da Cia. Hering, Fabio Hering, também disse que as varejistas de moda fizeram no segundo trimestre menos promoções e deram descontos a um número menor de produtos, tornando o ambiente de competição mais saudável.

Ele ponderou, no entanto, que não viu melhora no fluxo de consumidores em shopping centers. “Houve melhora nas praças de alimentação [dos shopping centers]. Mas não percebemos aumento de fluxo dentro das lojas”, afirmou Hering.

Há companhias que têm registrado resultados melhores, especialmente por causa de ações internas, mas ainda não verificam indícios de recuperação em demanda, como o Grupo Pão de Açúcar. O grupo reformulou a operação de seus hipermercados Extra e voltou a direcionar os investimentos para o atacarejo, com margens menores, mas com estrutura de custos mais barata.

“O que percebemos, no contexto macro, é que há alguns sinais positivos, como a perspectiva [de queda da] Selic, a reforma trabalhista, as reformas do setor elétrico e de mineração […]. Mas, de maneira geral, o cenário ainda está muito difícil e não vejo melhoria no caixa nas lojas. Temos trabalhado no sentido de gerar resultados menos dependentes do cenário externo e entendo que nossos avanços são fruto das ações internas que temos conduzido”, afirmou Ronaldo Iabrudi, presidente do Grupo Pão de Açúcar, após publicação de resultados em julho. (Colaborou Tatiane Bortolozi)

Fonte: Valor Econômico | 04 de Agosto de 2017
http://www.valor.com.br/empresas/5067438/varejistas-aumentam-receita-e-lucro
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