Quer pagar quanto?

(Portal no Varejo)
Apontado como o principal interessado na compra da Via Varejo, o Steinhoff, grupo de origem alemã com sede na África do Sul, caminha para ser um gigante global do setor de varejo. Saiba como o Brasil pode ajudar nessa trajetória

Quer pagar quanto?

Apontado como o principal interessado na compra da Via Varejo, o Steinhoff, grupo de origem alemã com sede na África do Sul, caminha para ser um gigante global do setor de varejo. Saiba como o Brasil pode ajudar nessa trajetória

11/11/2016 17:00

  • // Por: Moacir Drska
Além do muro: quando fundou o grupo, em 1964, Bruno Steinhoff importava móveis baratos da Alemanha Oriental
Além do muro: quando fundou o grupo, em 1964, Bruno Steinhoff importava móveis baratos da Alemanha Oriental

Um dos símbolos da Guerra Fria, o Muro de Berlim é também um marco na trajetória do alemão Bruno Steinhoff. Em 1964, ele enxergou uma oportunidade além do concreto que materializava a divisão política e ideológica da época: importar móveis baratos produzidos no lado oriental da Cortina de Ferro para vendê-los na Alemanha Ocidental. Naqueles primeiros meses da companhia batizada com o seu sobrenome, o carro do empresário era o único local de descanso, após a rotina intensa de trabalho. Desde então, não foram poucas as rotas percorridas pela Steinhoff.

Em 1998, após comprar uma fatia de 35% na empresa sul-africana de móveis Gommagomma e transferir sua sede para Joanesburgo, em 1998, a companhia tornou-se a segunda maior varejista daquele país. Há cinco anos, o grupo acelerou a expansão para mercados como Europa, Ásia, Austrália e Estados Unidos. A estratégia rendeu-lhe a alcunha de “Ikea da África”, em uma referência a gigante sueca de imóveis. E, na jornada para seguir fazendo jus ao apelido, o Brasil pode ser a sua próxima parada.

Dono de uma receita de € 13,1 bilhões e avaliado em € 20 bilhões, a Steinhoff estaria negociando a compra da participação de 27,3% do empresário Michel Klein na Via Varejo, que reúne mais de 900 lojas das bandeiras Casas Bahia e Pontofrio, além das operações de comércio eletrônico da recém-incorporada Cnova. O acordo envolveria a cifra de até R$ 1,5 bilhão. Procurada, a assessoria de Klein informou que empresário não iria se pronunciar, obedecendo a um acordo de confidencialidade. O grupo de origem alemã não retornou aos pedidos de entrevista.

A suposta investida, no entanto, ganhou mais força na quinta-feira, 3, quando o Grupo Pão de Açúcar (GPA) informou em fato relevante que seu conselho de administração autorizou a avaliação de alternativas envolvendo o seu investimento na Via Varejo, na qual detém 62,6%. Segundo a empresa, a iniciativa está alinhada “com a estratégia de continuar priorizando o desenvolvimento do negócio alimentar”. À DINHEIRO, o GPA afirmou que não se manifestaria com base em especulações e negou qualquer contato preliminar com supostos interessados. O grupo francês Casino, seu controlador, também não retornou às solicitações de entrevista.

A despeito das negativas, a venda da Via Varejo é um desejo declarado de Jean-Charles Naouri, CEO do Casino. Além do tradicional foco no setor alimentar, o grupo tem outros motivos para levar à frente esse plano. Pressionada pelas margens baixas e a queda no varejo de eletroeletrônicos, a Via Varejo acumula um prejuízo de R$ 184 milhões nos nove meses de 2016. “O Casino está centrado em reduzir o seu alto endividamento e sua complexidade organizacional”, diz Elton Morimitsu, analista da consultoria Euromonitor. “A venda da Via Varejo vai ao encontro desses objetivos.”

Fundador da consultoria Varese, Alberto Serrentino reforça essa visão. “Ao contrário dos altos e baixos dos eletroeletrônicos, o varejo alimentar é o segmento de maior resiliência e previsibilidade.” Recursos não são um problema para a Steinhoff. Listado nas bolsas de Frankfurt e de Joanesburgo, o grupo recebeu, em setembro, uma injeção de capital de € 2,45 bilhões, liderada por Christo Wiese, presidente do conselho da empresa. Dono de uma conta bancária estimada em US$ 7,7 bilhões e segundo homem mais rico da África do Sul, o executivo possui uma fatia de 17% na companhia.

A ideia é fortalecer a expansão internacional e a diversificação do portfólio com aquisições. Hoje, além de móveis, a oferta inclui itens como eletroeletrônicos e moda. “Essa abordagem está no nosso DNA”, disse Wiese, em entrevista recente. O apetite internacional não é o único fator capaz de aproximar o grupo da Via Varejo. Em setembro, a Conforama, uma rede francesa de móveis controlada pela Steinhoff, criou uma empresa para fazer compras conjuntas com o Casino.

A Steinhoff guarda ainda um importante paralelo com a Via Varejo. Assim como a Casas Bahia, ela prioriza os consumidores de menor poder aquisitivo, com produtos mais baratos. Para viabilizar a estratégia, a companhia investe em uma estrutura vertical, o que inclui 22 fábricas próprias. A vertente começou a ser explorada nas décadas seguintes à sua fundação, com a compra das instalações dos antigos fornecedores. Agora, com dinheiro para gastar, só resta saber o quanto estará disposta a pagar para levar a Via Varejo.

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20161111/quer-pagar-quanto/431559

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