Analistas esperam continuidade da alta e criticam ação do governo

(Valor Econômico)
Por Cibelle Bouças

Tentar controlar articialmente os preços só irá trazer problemas maiores no futuro, avalia Serrentino, da Varese Retail

A inflação de alimentos deve seguir acima da inflação geral no país. De acordo com especialistas, a sazonalidade, a perspectiva de manutenção do real desvalorizado e a recuperação gradual na demanda ajudarão a sustentar os preços em alta. Apesar dessa tendência, o pedido do governo para que indústrias e varejo expliquem a alta de preços foi alvo de críticas.
“Historicamente, há uma aceleração nos preços de alimentos no fim do ano. Pode haver essa pressão adicional no bolso do consumidor daqui para frente”, disse Eduardo Yamashita, diretor de operações da Gouvêa Ecosystem.
A sazonalidade soma-se aos fatores que já fizeram os preços subirem em agosto e não vão desaparecer. É o caso do dólar, que subiu mais de 30% no ano e deve fechar 2020 com média de R$ 5,25, segundo o boletim Focus, do Banco Central, ante R$ 5,31 ontem.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), quase metade dos custos de produção são cotados em dólar. As principais commodities agrícolas usadas na indústria – trigo, soja, milho, arroz, café e açúcar – tiveram aumentos de preços acima de 25% nos últimos 12 meses.
Alberto Serrentino, diretor da consultoria Varese Retail, acrescentou que não há perspectiva de mudança na taxa básica de juros (Selic), outra ferramenta usada para controlar a inflação, além do câmbio. “A inflação geral está baixa porque a demanda despencou. O dólar alto não gerou inflação sistêmica, mas nos produtos exportáveis o impacto é direto”, afirmou.
Ely Mizrahi, presidente do Instituto Foodservice Brasil (IFB), ponderou que a inflação da alimentação fora do domicílio está contida por causa da pandemia. Mas isso tende a mudar com a reabertura gradual dos restaurantes. “A inflação de alimentos no lar está próxima de 10% no ano e a fora do lar, em torno de 4%. Com a reabertura dos restaurantes, começamos a observar um movimento das indústrias para reajustar os preços”, disse Mizrahi.
De acordo com dados do IFB, as vendas de restaurantes estão 32% abaixo do nível veri!cado antes da pandemia. Já as vendas em supermercados está 22,9% maior. Contribuem para esse aumento a migração do consumo de alimentos na rua para o lar e a liberação do auxílio emergencial. “Mesmo com redução do valor mensal de R$ 600 para R$ 300, o auxílio emergencial é maior que o Bolsa Família e atinge mais pessoas, estimulando a
demanda”, disse Mizrahi.
Para André Braz, coordenador do IPC do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), não existe uma forma de controlar a inflação alimentar no curto prazo. “É uma questão de leis de mercado operando sobre os preços. O que se pode fazer é reduzir a dívida pública para melhorar a imagem do país no exterior, reduzindo o risco Brasil. Mas essa não é uma solução de curto prazo”, disse.
Para Serrentino, da Varese Retail, tentar controlar artificialmente os preços – como foi feito no passado com energia e petróleo – só irá trazer problemas maiores no futuro. “Não é supermercado que forma preço. O varejo está repassando o aumento que vem das indústrias, que também sofrem com a alta das matérias primas e dos custos com a pandemia”, disse.

 

 

Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/09/10/analistas-esperam-continuidade-da-alta-e-criticam-acao-do-governo.ghtml
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