Por que ele quer o Walmart?
(IstoÉ Dinheiro)
A gestora de private equity Advent está perto de assumir o controle da operação local da varejista americana, que acumula um desempenho aquém das expectativas desde que chegou ao País, em 1995
Moacir Drska
Desde que chegou ao Brasil, em 1997, sob o comando de Patrice Etlin, a americana Advent se consolidou como uma das principais gestoras de private equity no mercado local. Ao longo desse período, o País foi um dos destinos prioritários dos mais de US$ 13 bilhões captados em seis fundos para a América Latina. Entre ativos ainda sob gestão e desinvestimentos, seu portfólio brasileiro já abrigou mais de vinte empresas, em uma relação que inclui Kroton, Laboratório Fleury, Viena e CSU, entre outros. E essa lista tem tudo para ganhar, em breve, um novo nome. A Advent está em negociações avançadas para assumir o controle do Walmart Brasil, conforme foi revelado pelo jornal Valor Econômico e confirmado por duas fontes ouvidas pela DINHEIRO. A gestora está próxima de anunciar um acordo que prevê a aquisição de 80% do negócio. Os 20% restantes seguirão, a princípio, com a varejista americana.
As conversas, inicialmente, envolviam uma fatia minoritária. “Mas o próprio Walmart concordou que a venda do controle seria mais apropriada”, diz uma fonte próxima à negociação. “Eles têm a consciência de que a operação precisa de uma grande virada e que têm dificuldade para liderar esse processo.” A informação de que a rede americana buscava um sócio e trabalhava com a possibilidade de deixar o País foi antecipada em dezembro do ano passado, pela coluna MOEDA FORTE, de Carlos Sambrana, no portal da DINHEIRO. Assim como a integração das operações de lojas físicas e online, vista como tardia por analistas, que apontam a estratégia como apenas um entre tantos equívocos cometidos pela varejista desde que desembarcou no Brasil, em 1995.
Os seguidos resultados deficitários em suas lojas e o desempenho muito aquém das expectativas no Brasil estariam por trás do movimento do Walmart. Em 2017, esse cenário se agravou. O faturamento local da rede caiu 4,2%, para R$ 28,2 bilhões. No mesmo período, o Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar (GPA), seus principais concorrentes, apuraram, respectivamente, crescimentos de 7,2% e de 7,7%. Os vinte maiores grupos do setor atuantes no País movimentaram R$ 187,4 bilhões, um avanço de 4,3%, segundo a Associação Brasileira de Supermercados. Integrantes dessa “elite”, o Walmart e a Cencosud foram as únicas com recuo na receita, o que colocou a rede americana, de vez, na berlinda do CEO global Doug McMillon.
Sob esse contexto pouco atrativo, uma questão vem à tona em relação ao acordo iminente: por que Patrice Etlin e companhia estariam interessados no Walmart Brasil? Para analistas ouvidos pela DINHEIRO, o desempenho do varejo alimentar no Brasil, exposto no ranking da Abras, é um ponto de partida para responder a essa pergunta. “A Advent vê a concorrência vendendo o dobro e entende que há um grande potencial de recuperação”, afirma Juracy Parente, professor do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getulio Vargas. Ele ressalta o formato de atacarejo, que, nos últimos anos, puxou os resultados do Carrefour e do GPA no País. Na contramão dessa tendência, o Walmart ainda tem uma presença tímida no segmento, com a bandeira Maxxi. “O Walmart é uma marca forte, com 417 lojas físicas espalhadas em todo o País. Isso não pode ser desprezado. Há espaço para reverter essa situação”, diz Luiz Alberto Marinho, sócio do grupo Gouvêa de Souza.
Em um contraponto ao Walmart, a Advent vive um bom momento no Brasil. Em 2017, por exemplo, a empresa captou R$ 1,3 bilhão ao se desfazer de sua participação no Laboratório Fleury. Outra saída no período foi a venda da terminal portuário TCP, em Paranaguá (PR) para a chinesa CMPort, que pagou R$ 2,9 bilhões por 90% da operação. A gestora detinha uma fatia de 50% no negócio. Nos investimentos, a compra dde 13,5% do grupo educacional Estácio foi um dos destaques recentes. Recursos para a compra do Walmart também não são um problema. A Advent possui um fundo já captado, em 2014, para a América Latina, de US$ 2,1 bilhões. “E como uma gestora global, tem a possibilidade de acessar mais recursos, se preciso”, diz uma fonte do setor.
Além desse cenário, o conhecimento acumulado pela Advent sobre o varejo brasileiro, com aportes em empresas como Quero Quero, Restoque e Fortbras, é visto como um ponto favorável em uma eventual aquisição. O que a gestora fará se chegar a um acordo, no entanto, está restrito ao campo das especulações. “Hoje, o Walmart Brasil é um negócio de baixo desempenho, desintegrado, regionalizado e muito complexo, com nove bandeiras”, diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria Varese Retail. Ele entende que um dos possíveis caminhos a serem seguidos, no curto prazo, é o saneamento de algumas operações regionais, como Mercadorama e Bom Preço, para uma posterior venda fatiada. Assim, a gestão teria mais foco para atacar desafios como a aceleração da presença no atacarejo e da integração multicanal. Serrentino ressalta, porém, que será preciso lidar com uma velha barreira, apontada como a raiz de todos os problemas da rede no País. “Tudo dependerá do grau de autonomia que a nova gestão terá em relação à matriz do Walmart. Seja ela conduzida pela Advent ou por qualquer outro parceiro.” Procurados, Walmart e Advent não concederam entrevistas.
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