Varejo corta vagas para se ajustar à crise

(Veja.com)
Intenção das companhias é estarem mais enxutas quando o mercado de consumo voltar a crescer
alx_rua-25-de-marco-img-6895-22-original-02_original1-e1468346030591A crise na economia provocou um corte mais acentuado no emprego do que no número de lojas entre as maiores varejistas. Isso indica, segundo consultores, que as empresas estão aproveitando o momento para buscar um aumento de produtividade do trabalhador. A intenção das companhias é estarem mais enxutas quando o mercado de consumo voltar a crescer.

Das 300 maiores empresas do setor, 88 reduziram o número de funcionários no ano passado em relação a 2014 e um grupo menor, formado por 31 varejistas, diminuiu o total de lojas, aponta o ranking da Sociedade Brasileira de Varejo de Consumo (SBVC).

Apesar do enxugamento feito por esses dois grupos, a SBVC constatou que, juntas, as 245 companhias que informaram dados de pessoal e lojas nos rankings de 2014 e 2015 aumentaram, em média, 5,85% o número de pontos de venda no período e tiveram um acréscimo menor, de 1,35%, em média, no total de empregados.

Eduardo Terra, presidente da SBVC, disse que apesar dos cortes feitos pelos dois grupos – o que demitiu e o que fechou loja -, na média houve uma expansão do emprego e dos pontos de venda entre as 245 maiores varejistas do país, com um aumento no total de lojas comparado com o crescimento do número de funcionários. Ele explicou que essa expansão média entre as 245 empresas foi sustentada por farmácias e supermercados, dois segmentos que são mais resistentes à crise porque vendem produtos essenciais. “Mais de 50% das lojas abertas em 2015 são farmácias.”

Terra ponderou, no entanto, que os dados revelados pelo ranking de que houve uma pequena expansão no saldo de lojas em 2015 não se contrapõe a um estudo recente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), que mostrou que 99.000 lojas deixaram de funcionar em 2015. Ele argumentou que o estudo da CNC inclui todas as empresas do varejo, especialmente as pequenas e médias, que foram as mais afetadas pela crise. Já o ranking da SBVC avalia as 300 maiores varejistas em faturamento – que,  por serem de maior porte, foram, teoricamente, menos abaladas pela recessão.

Legado

Para Alberto Serrentino, sócio-diretor da consultoria de varejo Varese, o aumento de produtividade nas empresas de varejo por conta do ajuste no emprego e fechamento de lojas deficitárias é o legado positivo da crise que será mais visível quando a economia voltar a crescer. Ele discorda da visão de que o varejo está retrocedendo. “É o oposto: está ocorrendo é um salto de produtividade.”

Atualmente, as grandes redes varejistas estão enxugando custos, cortando funcionários e fechando lojas deficitárias, o que dificilmente fariam se o mercado estivesse favorável, disse Serrentino. Isso, disse, vai tornar as empresas mais saudáveis.

O ajuste de pessoal que ocorreu em 2015 entre as 88 grandes companhias resultou em 58,3 mil demissões, nas contas da SBVC. Afetadas pelo aperto no crédito, as lojas de eletroeletrônicos e móveis foram as que mais cortaram. Juntas dispensaram 18.143 trabalhadores. Só a Via Varejo, dona das bandeiras Casas Bahia e Ponto Frio, respondeu por mais de 50% do corte. A companhia disse, por meio de nota, que “encerrou a operação de algumas lojas deficitárias que causaram a redução do quadro de funcionários em aproximadamente 11 mil posições no ano passado”.

Esse movimento, segundo Terra, se traduziu em aumento de produtividade. A venda por funcionário cresceu 5,82% em 2015, apesar de o faturamento da empresa ter caído cerca de 25%, descontada a inflação.

O Magazine Luiza, outra grande varejista de móveis e eletrodomésticos, ampliou em quase 7% as vendas por funcionário, segundo cálculos da SBVC. O presidente da rede, Frederico Trajano, diz que não demitiu em 2015 e que optou por não repor o funcionário que saiu. Com isso, a rede reduziu em 3.500 o número de empregados.

Apesar de 2015 ter sido difícil, com queda real de quase 20% nas vendas, o Magazine não fechou loja. “Abrir uma loja é um investimento de longo prazo. Não se pode fechar uma loja na primeira crise”, disse Trajano.

Vendas on-line

Além dos cortes feitos pelas grandes redes para aumentar a produtividade dos funcionários e compensar a queda na venda por causa da recessão, o emprego do varejo está ameaçado pela evolução tecnológica.

Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, disse que os avanços do comércio eletrônico e das vendas por telefone podem complicar mais um cenário que já é desfavorável para o emprego no setor por causa da crise.

Entre janeiro e julho, foram homologadas na cidade de São Paulo demissões de 71.212 trabalhadores no comércio. É um número apenas 1,5% menor do que no mesmo período de 2015. No ano passado inteiro, o total foi de 117.199 homologações. Uma demissão é homologada, isto é, a rescisão do contrato de trabalho passa pelo sindicato e posteriormente pela Delegacia Regional do Trabalho, quando o funcionário está há mais de um ano no emprego.

O avanço da internet é nítido, por exemplo, nos resultados do Magazine Luiza, gigante do varejo de eletrodomésticos e móveis. As vendas on-line responderam por quase um quarto do faturamento total da companhia no segundo trimestre de 2016, que foi de 2,56 bilhões de reais.

Frederico Trajano, presidente da varejista, disse que o projeto da empresa é se transformar numa loja digital com pontos físicos de venda. Para ganhar produtividade, ele contou que o plano é equipar com um smartphone cada vendedor dentro das lojas físicas para que ele possa realizar todas as operações e reduzir o tempo do processo de venda, que vai da baixa no estoque ao pagamento. O tempo poderá ser reduzido de 45 para 5 minutos.

“Vamos transformar 2.000 caixas em vendedores.” Questionado se o projeto deve resultar em demissões, Trajano respondeu que vai “precisar de mais gente capacitada para gerar receita”.

(Com Estadão Conteúdo)

 

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