Para consultor Alberto Serrentino, comportamento do consumidor reflete ambiente econômico do país

(O Negócio do Varejo)

O varejo brasileiro está condenado a um Natal fraco neste ano. Para Alberto Serrentino, sócio-fundador da consultoria Varese Retail, o ambiente econômico e a queda de confiança geram um cenário em que poucas empresas terão crescimento em termos reais.

Para este fim de ano, a Varese Retail realizou um estudo, com responsabilidade técnica Shopper Vista e painel online da Brazil Panels, a partir de entrevistas via Internet com 838 consumidores, homens e mulheres, de 20 a 60 anos, das classes A, B e C, em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife, em uma amostra representativa do universo de consumo brasileiro. Os principais números foram apresentados por O Negócio do Varejo AQUI e mostram pouca disposição para comprar e um pessimismo acima do normal.

Conversamos com Alberto Serrentino sobre os números do estudo e as expectativas para o varejo brasileiro neste fim de ano. A seguir, trechos da conversa:

ONDV – O estudo realizado pela Varese mostra que 53% pretendem gastar menos este ano. O varejo não conseguirá escapar de um Natal ruim?

Alberto Serrentino – O varejo vai vender menos este ano, de uma forma geral. Claro que haverá quem aumente suas vendas, mas, na média, o setor andará para trás. Nossa pesquisa mostra que 53% pretendem gastar menos que em 2014 e 30% esperam gastar o mesmo, mas isso em termos nominais. Considerando uma inflação de 10%, no mínimo 80% dos consumidores gastarão menos. E quanto mais massificado o varejo, maior será o impacto.

ONDV – Os consumidores com menor poder aquisitivo sofrerão mais esse impacto?

Serrentino – Sim. Na classe C, 58% pretendem gastar menos em termos nominais. Esses consumidores estão mais pressionados e isso está se refletindo nas compras de Natal. Estamos vivendo tempos de austeridade e todos precisam se adaptar a essa condição.

ONDV – Essa necessidade de austeridade ajuda a explicar o comportamento omnichannel já percebido no estudo?

Serrentino – Não dá para afirmar que é a crise que está impulsionando o omnichannel. O consumidor já incorporou a internet aos hábitos de compra, tanto pela facilidade de comparação de preços quanto pela conveniência. Ninguém quer perder tempo, e a internet ajuda muito nesse processo. O fato é que quem não vende pela internet está desconectado dos hábitos de consumo, inclusive para a compra de presentes. Isso é muito mais dramático na classe A, onde 65% dos consumidores farão pelo menos parte das compras pela internet, contra 51% no geral.

O estudo mostra também que 10% dos consumidores (e 13,5% na classe A) comprarão somente pela internet. Quem não tem operação online está fora do jogo, especialmente entre os consumidores de maior poder aquisitivo. Na Classe A, quase 80% dos clientes pesquisados usam a internet para fazer suas compras. Quem não tem estratégia digital está fora do mapa.

ONDV – Outro dado que chamou a atenção no estudo é um aumento do pessimismo para 2016.

Serrentino – O pessimismo em si não é tão surpreendente, já que é difícil encontrar boas notícias na mídia ultimamente, e isso acaba diminuindo a confiança dos consumidores. Nos outros anos, porém, mesmo quando o País ia mal as pessoas achavam que suas vidas melhorariam. Neste ano, porém, o comportamento do consumidor está muito mais pessimista: praticamente um terço dos consumidores acha que sua vida pessoal irá melhorar em 2016, mas outro terço está muito pessimista. Temos um país rachado, o que é muito ruim.

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